terça-feira, 27 de setembro de 2011

Desabafo de um agente socioeducativo da Funase

Sou anônimo, não só por medo da repressão, mas porque o Estado quis assim. Trabalho na Fundação de Atendimento Socioeducativo (FUNASE), antiga FUNDAC e FEBEM, atuando como AGENTE SOCIOEDUCATIVO (ASE). Meu ingresso nesta instituição se deu através de concurso público, realizado pela Universidade Estadual de Pernambuco (UPE), mais prova de títulos consecutiva, no ano de 2004.

Trabalho dentro de um pavilhão superlotado, quente, de odores fortes, sujo e mal ventilado. Eu e mais ou menos cinco colegas tomamos conta de quase 100 internos. Os adolescentes perdem anos valiosos de suas vidas, quando não a perdem, entre saídas e retornos. E o Estado até parece que se sente culpado, mas a criminalidade é a entidade que realmente abraça com laços fortes o futuro de cada um deles.
 
As funções de um ASE são muitas e dentro delas destaco: zelar pela integridade física e moral do interno, cuidar de sua segurança, alimentação e higiene pessoal, conduzi-lo e custodiá-lo para suas audiências, a hospitais ou outras instituições, contribuir para seu retorno a sociedade, ajudá-lo nas etapas de sua reeducação, proteger e cuidar do patrimônio da Fundação. No meio dessas atribuições o agente ainda tem que ter: habilidade para controlar rebeliões, tumultos entre gangues rivais, estupros, lesões corporais, consumo de drogas, agressões morais e ameaças. Tudo isso entre os internos e muitas vezes contra nós mesmos.
 
Não temos armas, somente o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Não temos a segurança dos nossos empregos, pois somos temporários. Não temos direitos trabalhistas, porque não recebemos vale-transporte, ticket alimentação, insalubridade, FGTS, adicional noturno, indenização, seguro desemprego, até o direito de fazermos parte do SASEPE e sermos atendidos pelo hospital do servidor é negado.
 
Sobrevivemos de nosso sacrificado salário, que nem se quer chega a ser dois mínimos. Como posso existir com tão pouco? Eu também sou vitima do Estado e prossigo a quase 6 anos, fazendo a minha parte. Como um pacto pela vida, pela minha vida, sem ninguém me vê e saber quem sou. Cada vez mais anônimo

Em tempo
O agente socioeducativo de Pernambuco que escreveu esse texto foi demitido a pouco tempo, juntamente com  muitos outros agentes, por ter o contrato finalizado.

2 comentários:

  1. Essa é a mais pura realidade. Estamos diante de um grande desafio e precisamos nos unir de verdade para que desgraças como esta não tornem a se repetir. Lamentamos pela demissão de mais colegas de trabalho e sentimos o peso dessas saídas que são um enfraquecimento no nosso quadro e dificulta muito a situação de quem fica nas casas com um número de menores aumentando a cada dia. Esperamos por uma iniciativa mais ousada da nossa assosiação diante disso tudo e se ela não tomar essa atitude devemos nós mesmos nos organizar e lutar. Sou Rivantonio, ASE do CASE Abreu e Lima, hoje a disposição na UNGEP, por uma acusação infundada e desmentida feita por algumas mães e alguns adolescentes e aguardando a boa vontade do Dr. Paulo Brandão que já teve acesso ao nosso depoimento e sabe que a FUNASE já nos absolveu, porém ninguém sabe o porquê dele ainda não arquivar o nosso processo. Esperamos que outra injustiça não seja feita. E que Deus nos abençoe.

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  2. Really, how sad, we are all more the same situation, alas, a big hig, JRDM.

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